quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Poeta Paulo Marinho torna-se Membro da ALEAT



Neste mês de janeiro, ingressaram na Academia de Letras do Alto Turi - ALEAT dois novos membros: A Jovem poetisa Ananda Cristina, conforme informamos recentemente, e também, o poeta Paulo Marinho da Silva Filho, autor da bela poesia abaixo (minha cidade). Marinho é , por vários motivos, um dos homens mais célebres deste município, tanto por sua relevante participação na história política e social desta cidade, como por seu refinado gosto pelas letras, que agora torna-se do conhecimento do grande público. A ALEAT sente-se lisonjeada por ter em seu quadro de membros efetivos dois artistas literários de tamanha sensibilidade e talento.


Minha cidade

Minha cidade é uma bruxa do amor,

que me laçou em seus braços num abraço terno e forte,

sua voz eu ouvia num canto encantador,

que em uma bela sereia se transformou.


E no meio da mata virgem na sombra úmida e calma,

à beira de um regato fizemos amor.

Na sua teia eu não caí, eu me atirei, nadei, mergulhei,

me afoguei na magia desse amor.


Eu vi o espírito que anda, corria,

águas calmas e claras serpentiavam por entre folhas, raízes e troncos,

com rumo certo e incerto aqui e ali se acumulava,

alimentava, a sede matava.


Em cima, na copa das centenárias árvores,

o grito do capelão se fazia ouvir,

o mateiro saltitava, tatu cavava,

o coco a paca nos dentes quebrava,


a cutia graciosa com pelos brilhantes

por entre ramas desfilava,

pássaros multicoloridos, papagaios, periquitos, araras num grasnar,

num cantar, numa melodia divinal, numa harmonia celestial,

como uma grande orquestra regida pelo amor.


Minha cidade era uma bruxa do amor.

Cresceu, desenvolveu e muito pouco restou

das mansas regatas da sombra e da frescura.

Só lembranças que na mente dançam a música da saudade.


Da orquestra que me acalentava só o eco se faz ouvir,

do espírito que andava e corria, pés machucados pelo chão seco e rachado, e corpo sangrando pelo arame farpado.

Da mata, que mata?! Mataram, escalpelaram, madeira nobre,

terra sem lei, homens sem esperança.


Sinto saudades dos muitos gozos que tive com esse amor.

Não tivemos filhos, porque filhos eram todos e decidiram ficar órfãos.

No meu canto choro o meu pranto, mas canto, o canto do amor,

pois sei que ele pode voltar.


Ninguém é tão fraco que não possa ser forte um dia.

Minha cidade será novamente a bruxa do amor.


(Autor: Paulo da Silva Marinho Filho)


Postado por Welson dos Santos Lopes
welson789@hotmail.com